Agora é oficial, finalmente temos estabelecido um evento de La Niña no Oceano Pacífico Equatorial! A confirmação veio dos principais centros internacionais de pesquisas climáticas, Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, sigla em inglês) e a agência australiana Bureau de Meteorologia (BOM, sigla em inglês) que afirmaram que a La Niña, fase negativa do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS), já está configurado!
Até umas semanas atrás ambas agências não estavam em plena concordância sobre o estabelecimento do evento. Enquanto a NOAA tinha confirmado o surgimento da La Niña no mês passado, a BOM continuava em estado de alerta para sua possível formação, sem confirmar seu estabelecimento por não estar observando todos os indícios característicos do fenômeno no oceano e atmosfera da região do Pacífico Equatorial.
A mudança de status da BOM ocorreu após um forte resfriamento das Temperaturas da Superfície do Mar (TSM) no Oceano Pacífico Tropical Leste e Central, com anomalias chegando a -1°C. Além disso, a BOM também destacou que os sinais de resposta da atmosfera a esse resfriamento agora estão mais claros e evidentes, com o fortalecimento dos ventos alísios e as alterações da convecção e nebulosidade equatorial.
Grande parte dos modelos climáticos dos centros internacionais estão indicando que este evento de La Niña deverá durar até pelo menos o início de 2021. Em relação a intensidade das anomalias de TSM, ou seja, a intensidade do evento em si, a maioria dos modelos indicam que as anomalias ficarão entre -0.5 a -1°C, com talvez um resfriamento mais intenso (não passando de -1.5°C) entre outubro e dezembro, o que classificaria esse La Niña como um evento de intensidade fraca ou moderada.
O que é o La Niña?
O ENOS apresenta duas fases distintas, o El Niño e a La Niña. Enquanto o El Niño é caracterizado por um aquecimento anômalo das TSMs, a La Niña apresenta uma configuração oposta, um resfriamento anômalo das TSMs no Pacífico Equatorial.
No El Niño observamos um enfraquecimento da célula de circulação atmosférica zonal da região tropical, a Célula de Walker, com o deslocamento do centro de convecção tropical para o meio do Oceano Pacífico, já no La Niña temos um fortalecimento dessa circulação. Ou seja, durante a La Niña temos uma intensificação do padrão de circulação normal
Quando isso ocorre, temos um fortalecimento da convecção tropical sobre a chamada piscina quente do Pacífico Tropical Oeste (região da Indonésia) e uma intensificação dos movimentos subsidentes compensatórios no Pacífico Central e Leste, além de uma intensificação dos ventos de leste, os chamados ventos alísios, no Pacífico Tropical.
Os impactos globais da La Niña
Assim como o El Niño, a La Niña também gera impactos no globo inteiro. Na Austrália ela costuma gerar chuvas acima da média em partes do país na primavera e verão austral, além de aumentar a atividade de ciclones tropicais. Na Indonésia observa-se mais chuva que a média, um tempo mais frio e úmido no sul da África, tempo mais seco no sudeste da China e mais frio sobre o Japão.
A La Niña também acaba favorecendo o desenvolvimento e intensificação dos furacões no Atlântico Norte. Além disso, nos Estados Unidos o fenômeno contribui para um inverno mais quente e seco no sul do país e mais frio no norte, incluindo o Alasca.
Os impactos da La Niña no Brasil são mais evidentes na primavera e início do verão, quando geralmente temos uma diminuição das chuvas na região Sul e chuvas acima da média no extremo norte do Brasil, além de contribuir para temperaturas mais amenas sobre o Sudeste e parte do Brasil Central.
2020-09-30 19:22:33