“Carnificina”. Assim descrevem entidades humanitárias trabalhando nas áreas mais atingidas pelo supertufão Rai que devastou parte das Filipinas no final da última semana. Os números do desastre são impressionantes. Ao menos 1,1 milhão de pessoas foram afetadas, 481 mil estão desabrigadas e 28 mil casas tiveram danos. O balanço de atingidos e danos deverá aumentar significativamente nos próximos dias e semanas à medida que muitas áreas devastadas ainda não puderam ser alcançadas pelas autoridades.
“Estamos diante de uma grande crise humanitária”, disse Ansherina Talavera, gerente do programa da CARE Filipinas. “Estamos vendo centenas de milhares de pessoas deslocadas, e estradas e linhas de energia destruídas. Em algumas áreas, não se espera que a energia retorne por pelo menos um mês. O acesso a algumas das áreas mais afetadas, especialmente ilhas remotas, devido à destruição de embarcações”, afirmou. “O nível de devastação causado pelo tufão é verdadeiramente de partir o coração”, disse David Gazashvili, Diretor da CARE nas Filipinas.
O número oficial de mortos no desastre é de 375, entretanto deve aumentar. “A casa foi destruída, tudo quebrou”, declarou Concepción Tumanda ao vasculhar os escombros de sua casa coberta de lama em uma ilha das Filipinas. Sem conter as lágrimas sobre as ruínas de sua residência na cidade de Loboc a sobrevivente do tufão conta que “não sobrou nada”.
O tufão Rai atingiu na quinta-feira da semana passada a ilha turística de Bohol, com fortes chuvas e ventos que arrancaram tetos e árvores. Bohol, conhecida pelos pontos de mergulho, foi uma das ilhas mais afetadas pelas inundações. Ao menos 98 pessoas morreram na localidade, informou o governador Arthur Yap. E outras 16 são consideradas desaparecidas.
Yap implorou ao presidente Rodrigo Duterte pelo envio recursos para a compra de alimentos e água para os moradores desesperados da ilha, que está sem energia elétrica e sistemas de comunicação. “Precisamos de comida, especialmente arroz e água”, declarou Giselle Toledo, que teve a casa destruída pela inundação. “Não conseguimos salvar nada, não sabemos onde recomeçar nossas vidas”.
Rai também provocou destruição nas ilhas Siargao, Dinagat e Mindanao, onde os ventos alcançaram 195 km/h. Duterte declarou estado de calamidade nas áreas afetadas pelo tufão e liberou recursos para ajudar os afetados. Os militares enviaram navios, barcos, aeronaves e caminhões para entregar alimentos, água potável e equipamentos médicos aos sobreviventes. A Cruz Vermelha também distribui ajuda e vários governos estrangeiros ofereceram milhões de dólares em ajuda financeira.
Mas as autoridades locais e os moradores reclamam que a ajuda demora muito a chegar. Nas estradas de Bohol foram registradas longas filas de pessoas esperando com recipientes de água, enquanto as motocicletas formam filas nos postos de combustíveis. “A água é o nosso principal problema”, comentou Jocelyn Escuerdo, que perdeu a casa e está em um centro para desabrigados.
“Os recipientes que as agências nos entregaram não são grandes, apenas cinco litros, então a água acaba constantemente”, declarou, antes de afirmar que recebe alimento suficiente apenas para o dia. Embora muitas pessoas tenham deixado suas casas antes da tempestade, outras ficaram em suas residências para cuidar de seus animais, como galinhas e porcos, e também para proteger suas propriedades. Alguns ficaram isolados pelas inundações e ficaram três dias sem alimentos, afirmou o dirigente local Pedro Acuna, que usou um barco a remo para distribuir comida.
O exército filipino tentava transportar água e comida para as ilhas devastadas pela passagem do tufão Rai enquanto organizações humanitárias pedem ajuda para centenas de milhares de desabrigados. O cenário é de destruição: casas de madeira desabaram, árvores foram arrancadas e o fornecimento de energia elétrica foi cortado em várias ilhas. A ONU citou uma “devastação absoluta” nas áreas mais afetadas pelo Rai, que tocou o solo na quinta-feira nas Filipinas como supertufão, o fenômeno mais potente a afetar o país este ano.
“Nunca em minha vida havia visto um tufão assim”, afirmou o padre católico Antonieto Cabajog em Surigao, no extremo Norte da ilha de Mindanao. “Dizer super é um eufemismo”, acrescentou a uma agência de notícias administrada pela Igreja. Mais de 400.000 pessoas estão em abrigos ou em casas de parentes, informou a agência nacional de gestão de desastres, depois que suas casas foram destruídas ou muito danificadas pelo ciclone.
Máquinas pesadas, incluindo retroescavadeiras, também foram enviadas para limpar as estradas. A Cruz Vermelha também está enviando mantimentos para as ilhas de Siargao e Bohol, dois destinos turísticos. A organização pediu 22 milhões de dólares para financiar os trabalhos de emergência. O Reino Unido ofereceu um milhão de dólares para o esforço, Canadá cerca de 2,3 milhões e a União Europeia quase 2 milhões. Outras ONGs também pediram doações.
Em Palawan, a última ilha impactada, agricultores e pescadores perderam seus meios de subsistência, informou o padre católico Eugene Elivera na capital da província, Puerto Princesa. Muitas pessoas nesta ilha nunca sofreram com uma tempestade tão forte. “O desafio agora é como começar de novo”, disse o padre.
Rai atingiu as Filipinas de forma tardia já que a temporada de tufões geralmente acontece de julho a outubro. Os cientistas alertam que as tempestades são cada vez mais potentes e ganham força de maneira mais rápida devido ao aquecimento global provocado pela mudança climática. As Filipinas estão entre os países mais vulneráveis ao fenômeno e registra a passagem de quase 20 tufões e tempestades tropicais a cada ano. Em 2013, o tufão Haiyan deixou mais de 7.300 pessoas mortas ou desaparecidas, a tempestade mais violenta a afetar o país.
2021-12-22 18:58:50