Uma sequência de ciclones intensos impacta o Sul do Brasil desde o final de abril com estragos por vento e inundações que resultaram em enchentes. Houve ainda agitação marítima e com ressaca. Foram três ciclones em duas semanas com reflexos no Sul do país, embora nem todos tenham atuado sobre a região. Agora, o quarto ciclone é o que representa o maior risco tanto em vento quanto agitação marítima na parte meridional do Brasil.
O primeiro ciclone intenso se formou no Leste da Argentina no final de abril. Uma área de baixa pressão começou a se aprofundar muito no final do dia 26 na província de Buenos Aires. Na noite do dia 27 de abril, o sistema já estava na altura das Ilhas Malvinas, no Atlântico Sul, a Leste da Patagônia, com pressão no seu centro entre 950 hPa e 955 hPa, cerca de 40 hPa a menos que no começo do dia, quando estava na altura de Buenos Aires, cerca de dois mil quilômetros ao Norte. Tratou-se, assim, de uma ciclogênese explosiva ou ciclone bomba. No dia 28, o sistema estava na Ilhas Geórgia do Sul, perto da Antártida, com pressão de 935 hPa.
Este ciclone bomba organizou uma extensa frente fria de milhares de quilômetros desde o Sul do Atlântico ao Sul do Brasil. O aprofundamento da baixa pressão na Argentina gerou corrente de jato em baixos níveis muito intensas com tempestades severas na Argentina e Uruguai com vento de quase 130 km/h em Buenos Aires e 110 km/h na região de Montevidéu.
A intensa frente fria formada e associada ao ciclone bomba trouxe muitos estragos no Paraná com destelhamentos e quedas de árvores. Ao menos 1200 residências e prédios foram destelhados. O vento e o granizo foram tão intensos que deixaram um gigantesco rastro na vegetação de uma centena de quilômetros entre os municípios paranaenses de Maripá e Assis Chateaubriand.
Na primeira semana de maio, ciclone começou a se formar (ciclogênese) sobre Santa Catarina e avançou para a costa. Não foi um sistema gerador de vento muito intenso, como se projetava, mas confirmou os alertas que se fazia sobre trazer chuva extrema, inundações e deslizamentos de terra pelos acumulados excepcionalmente altos. Em todo o estado, a Defesa Civil de Santa Catarina contabilizou mais de uma centena de municípios com ocorrências relacionadas às chuvas e duas dezenas decretaram emergência. Houve também três óbitos confirmados: dois no município de São Joaquim e um no município de Urubici.
Os volumes de chuva em algumas cidades catarinenses apenas nos primeiros quatro dias de maio foram duas a quatro vezes maior que a média mensal. Os acumulados foram de 409 mm em São Martinho, 307 mm em Braço do Norte, 296 mm em Rio Fortuna, 288 em Mirim Doce, 273 mm em Florianópolis (Campeche), 269 mm em Tubarão e Siderópolis e 255 mm em São Joaquim, dentre as muitas medições acima de 200 mm.
No final da última semana, um outro ciclone impactou o Sul do Brasil, mas desta vez sem danos e apenas ressaca do mar nos litorais do Sul e do Sudeste. O sistema estava a uma grande distância da costa e produziu forte agitação marítima em praias gaúchas e catarinenses. Houve ainda avisos de ressaca para o Rio de Janeiro.
Agora, o Sul do Brasil está na iminência de ser atingido por mais um ciclone e o mais intenso de todos até agora neste ano e um dos mais poderosos em muitos anos a atuar na região. Os três desde o final de abril foram extratropicais, mas este de intensidade e trajetória atípicas pode adquirir características subtropicais. O sistema de trajetória incomum vai avançar do mar em direção ao continente como uma baixa retrógrada e deve margear o litoral gaúcho e após avançar para a costa catarinense, quando passará a se movimentar no sentido Leste.
Haverá um enorme contraste de pressão atmosférica com a baixa muito profunda e áreas de alta pressão associadas ao ar frio ao Oeste e ao Sul com grandes anomalias positivas de pressão atmosférica na altura das Ilhas Malvinas e uma enorme faixa de pressão mais alta que o normal acompanhando a intrusão de ar frio pelo interior do continente. O gradiente extremo de pressão esperado reforçará o centro de baixa pressão e potencializa muito o vento intenso e em alguns momentos até violento nas rajadas.
Os modelos numéricos de previsão indicam uma baixa por demais profunda na costa gaúcha. Tanto o modelo norte-americano como o europeu, em suas saídas deste domingo, projetam o centro do ciclone com pressão de 985 hPa na costa gaúcha. O norte-americano GFS sinaliza o sistema rente à costa enquanto o europeu desloca a tempestade subtropical muito perto do litoral, mas não sobre a costa. Trata-se do pior cenário para vento intenso.
O Sul e o Leste do Rio Grande do Sul serão as regiões mais castigadas pelo ciclone com vento, em média, de 80 km/h a 100 km/h, mas com rajadas em alguns pontos que podem atingir até 110 km/h a 120 km/h, especialmente no Litoral Sul e na área da Lagoa dos Patos e seu entorno. O Litoral Norte gaúcho também deve sofrer com vento perto ou acima de 100 km/h, sobretudo mais ao Sul da região entre Quintão e Tramandaí.
Entre as cidades que mais podem ser impactadas pelo vento muito intenso que vai soprar com rajadas por muitas horas seguidas estão as das regiões do Chuí, Pelotas, Rio Grande, Camaquã, Mostardas, Porto Alegre e Sul da área metropolitana (Vale do Sinos é menos impactado em ciclones), Leste da Serra e o Litoral Norte. É alta a probabilidade de danos e de alto impacto no serviço de energia elétrica com a esmagadora maioria dos pontos sem luz na área de concessão da CEEE Equatorial, onde, considerado a intensidade do vento projetada, centenas de milhares de pessoas podem ficar sem luz no pico da quarta-feira.
O vento aumenta muito ao longo da terça no Sul do Estado gaúcho e entre a noite da terça e a manhã de quarta se espera o pior do vento no Sul e no Leste do Rio Grande do Sul, inclusive em Porto Alegre. Na sequência, o Sul e o Leste catarinense devem ter rajadas fortes a intensas, de 80 km/h a 100 km/h e localmente superiores, especialmente o Sul de Santa Catarina.
Pode ventar forte ainda depois nos litorais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Há alto risco de elevação da maré (maré de tempestade) e de ressaca de grandes proporções na costa com danos e ondas na costa de cinco metros ou mais nos litorais gaúcho e catarinense. A ressaca em algumas praias pode ser muito intensa ou violenta. As condições oceânicas na costa do Sul do Brasil e na Lagoa dos Patos serão extremamente perigosas, equivalentes a de um furacão em alto mar, com altíssimo risco para a navegação e possibilidade de naufrágio de embarcações. O mar vai ficar muito agitado com risco de grande ressaca também no litoral do Sudeste do Brasil na segunda metade da semana.
2022-05-15 12:31:15