A dinâmica atmosférica no Brasil neste começo de dezembro já é a típica do verão com pancadas de chuva geradas por calor e umidade em todas as regiões do país. Os últimos dias já registraram precipitação resultante de convecção (movimento ascendente do ar) por alta temperatura no Sul do Brasil, pela primeira vez desde o final da temporada quente de 2022/2023, e o começo desta semana reserva mais instabilidade associada ao calor.
O mapa acima mostra a projeção do modelo Icon de chuva para todo o Brasil nesta semana em que se observa a tendência de chover em grande parte do país com precipitações escassas só na Região Nordeste. O cenário é o comum que se observa nos meses de verão em que a chuva é mais abundante no Norte, no Centro-Oeste e no Sudeste do Brasil.
Entre o fim do outono e o começo da primavera, o Centro do Brasil tem sua estação seca ao passo que entre novembro e meados de abril tem seu período mais chuvoso do ano. A Região Norte tem o seu período mais chuvoso do ano, que se denomina de inverno amazônico, quando há uma maior concentração das chuvas, que vai de dezembro até meados de maio, e que normalmente concentra 60% a 70% da precipitação do ano.
No Sul, diminui a influência das frentes frias e passam a ocorrer pancadas associadas ao calor, o que não ocorre na maior parte do outono, no inverno e na maioria dos dias da primavera. A Região Sul, em especial, que não tem temporadas seca e chuvosa, e costuma ter seus maiores volumes anuais no inverno e na primavera, opera-se uma mudança no regime de precipitação com menor influência de sistemas de maior escala (frentes e centros de baixa pressão) com chuva em muitos dias apenas resultante de calor e umidade por convecção.
Começa, assim, o regime de chuva de verão no Rio Grande do Sul e em grande parte da Região Sul. Entre grande parte do outono e novembro, todos os anos, a chuva no Rio Grande do Sul tem como causa sistemas de grande escala como centros de baixa pressão ou ciclones, frentes frias ou quentes, e ainda pela circulação de umidade de centros de alta pressão no oceano.
No verão, a maioria destas situações de maior escala ainda traz chuva, apesar de maneira menos frequente, mas, por outro lado, soma-se uma outra causa para a precipitação que é convecção (movimentos ascendentes do ar na atmosfera) ativada pela temperatura mais alta.
Por isso, principalmente entre novembro e março, é comum que ocorra chuva isolada da tarde para a noite. Não raro, mais em dias de intenso calor, tais pancadas podem trazer volumes altíssimos de chuva em curto período com alagamentos e inundações repentinas.
Há vários precedentes de chover em meia hora ou uma hora o que é comum chover na média da metade de um mês ou até um mês todo. Também nestes dias tórridos, com marcas de 35ºC a 40ºC, cresce o risco de tempestades localizadas intensas com vendaval e granizo. Os temporais às vezes são severos e com danos, podendo desencadear até tornados e microexplões atmosféricas. Foi o que, por exemplo, ocorreu no temporal arrasador que atingiu Porto Alegre em janeiro de 2016.
Estas pancadas e temporais muito isolados e passageiros associados ao calor que ocorrem no período quente do ano são verdadeiro tormento para quem prevê o tempo. Por quê? É possível prever pancadas e temporais isolados numa determinada região, mas estabelecer exatamente onde ocorrerão com antecedência é muito difícil.
São inúmeros os casos de parte de uma cidade estar com sol e calor na mesma hora que outra parte da mesma localidade, a poucos quilômetros, estar sob chuva e temporal. Ou uma cidade estar com chuva e o município imediatamente ao lado estar com sol. É o que leva muita gente a questionar nas redes sociais durante o verão onde está a chuva que a Meteorologia indicou para a sua cidade. A previsão não está necessariamente errada. Pode ter chovido alguns bairros adiante de onde a pessoa reside, confirmando a previsão, mas não necessariamente onde a pessoa está.
2023-12-03 13:30:29