Número de casos confirmados já passa de mil, enquanto pesquisadores tentam entender rápida disseminação da doença.
Foto: Divulgação/OMS
Número de casos confirmados já passa de mil, enquanto pesquisadores tentam entender rápida disseminação da doença. (Foto: Divulgação/OMS)
Há exatamente um mês, o Reino Unido registrava o primeiro caso importado de varíola do macaco (monkeypox, em inglês) de 2022. Tratava-se de um viajante que retornara da Nigéria, onde a doença é endêmica. O que até então era normal em alguns países – casos esporádicos relacionados a viagens – tomou uma proporção nunca antes vista, tornando-se o maior surto da doença fora do continente africano: mais de 30 países já foram atingidos.
Uma semana depois do primeiro caso na Inglaterra, duas pessoas de uma mesma família, sem ligação com o primeiro paciente, também tiveram diagnóstico positivo de varíola do macaco em Londres.
“O surto atual é a primeira vez que o vírus foi transmitido de pessoa para pessoa na Inglaterra, onde as ligações de viagem para um país endêmico não foram identificadas”, afirmou em comunicado a UKHSA (Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido).
Daí em diante, pacientes com sintomas clássicos de varíola do macaco (febre aguda, linfonodos inchados e lesões cutâneas) começaram a aparecer em hospitais de Portugal (17 de maio), Espanha (18 de maio) e outros países europeus.
A doença, todavia, não ficou restrita ao continente europeu. Quase que simultaneamente, foram confirmados casos nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália.
O número de diagnósticos positivos aumentou exponencialmente, triplicando nos últimos dez dias.
Nesta segunda-feira (6), um monitoramento em tempo real feito por pesquisadores da iniciativa Global.health – que inclui universidades renomadas, como Harvard e Oxford – mostrou 1.011 casos confirmados de varíola do macaco em 31 países.
Ainda assim, mais da metade está concentrada na Inglaterra, Espanha e Portugal.
Além dos países citados acima, confirmaram casos:
• Alemanha
• Argentina
• Áustria
• Bélgica
• Dinamarca
• Emirados Árabes Unidos
• Escócia
• Eslovênia
• Finlândia
• França
• Hungria
• Irlanda
• Irlanda do Norte
• Israel
• Itália
• Letônia
• Malta
• Marrocos
• México
• Noruega
• País de Gales
• Países Baixos
• República Tcheca
• Suécia
• Suíça
O que mais intriga pesquisadores é como uma doença considerada de transmissão significativamente limitada entre humanos (normalmente restrita a pessoas da mesma família) está aparecendo em pessoas sem ligação aparente e em diferentes partes do mundo.
“A varíola do macaco não é uma doença nova, ela tem sido descrita por pelo menos 40 anos e tem sido bem estudada na região africana. Nós vimos poucos casos na Europa nos últimos cinco anos, apenas em viajantes, mas esta é a primeira vez que estamos vendo casos em diversos países ao mesmo tempo e em pessoas que não viajaram para as regiões endêmicas na África”, declarou recentemente a secretária de varíola do Programa de Emergências Sanitárias da OMS (Organização Mundial da Saúde), Rosamund Lewis.
Integrante do comitê da OMS coordenado por Rosamund, a virologista brasileira Clarissa Damaso, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), sugere que o vírus da varíola do macaco pode ter encontrado ambientes que facilitaram a transmissão em determinados grupos de pessoas.
“Desta vez, houve algum fator de extremo contato, uma conjuntura de alguém infectado estar no local errado na hora errada. Foi algum lugar com muita gente, muito contato de pele [uma das formas de transmissão da doença]”, afirma a pesquisadora, que estuda o vírus da varíola há 35 anos.
A varíola do macaco é uma zoonose, ou seja, afeta prioritariamente animais, mas o vírus consegue saltar para humanos com certa frequência e, como está sendo observado, manter certo nível de transmissão entre pessoas.
Na última quarta-feira (1º), o diretor de emergências da OMS, Mike Ryan, advertiu que surtos de doenças como a varíola do macaco e a febre de Lassa estão se tornando mais persistentes e frequentes.
“Infelizmente, essa capacidade de amplificar essa doença e movê-la dentro de nossas comunidades está aumentando – então, tanto o surgimento da doença quanto os fatores de amplificação da doença aumentaram.”