Uma área de baixa pressão avança nesta quinta-feira do Centro da Argentina para o Uruguai e o Extremo Sul gaúcho, trazendo chuva localmente forte e tempestade fortes a severas isoladas em províncias do Centro argentino e em diversos departamentos uruguaios. A baixa pressão se aprofunda com valores abaixo de 1000 hPa ainda hoje no território uruguaio.
O centro de baixa pressão, então, se deslocará para Leste e amanhã vai estar sobre o Oceano Atlântico a Sudeste do Chuí, onde deve se intensificar com pressão atmosférica mínima central ao redor de 996 hPa ou 997 hPa como um ciclone extratropical.
No sábado, o sistema enfraquece à medida que se desloca para Leste e Nordeste e a sua pressão central aumenta para valores acima de 1000 hPa, sinalizando perda de intensidade e que vai gerar desorganização de sua estrutura típica de uma espiral de nuvens, não oferecendo qualquer risco para a área continental.
A seguir, em perguntas e respostas, esclarecemos as principais dúvidas recebidas pelas nossas redes sociais sobre este sistema de instabilidade que vai dar origem a uma tempestade oceânica e quais são seus riscos.
O ciclone será intenso?
Não, nem ciclone bomba (cuja pressão central deve cair ao menos 24 hPa em ao menos 24 horas) nem tampouco um ciclone intenso. O valor de pressão atmosférica mínimo projetado para este sistema é de 995 hPa ou 996 hPa, o que é uma pressão atmosférica muito baixa se registrada na área continental, mas não em se tratando do centro de um ciclone no mar.
Ainda, não haverá um centro de alta pressão com valores elevados, típicos de fortes massas de ar frio, comuns no inverno, que gere um gradiente (diferença) de pressão atmosférica grande que resulte em vento ciclônico sustentado por muitas horas.
Por que, então, a preocupação com este ciclone?
O sistema de baixa pressão que vai dar origem ao ciclone vai avançar nesta quinta pelo Centro da Argentina e o Uruguai e a partir dele deve se organizar uma linha de instabilidade que irá se deslocar pelos estados do Sul do Brasil, o Nordeste da Argentina e o Paraguai no decorrer do dia. Alerta laranja foi emitido pelo Serviço Meteorológico da Argentina para províncias do Nordeste do país. Esta linha de instabilidade ao avançar pelo Sul do Brasil poderá provocar episódios isolados de tempo severo como vendaval, granizo e chuva forte a intensa localizada com alto volume em curto período.
A que horas a chuva chega e há risco de temporal?
O sol aparece com nuvens na maior parte do Sul do Brasil nesta quinta-feira e a temperatura se eleva rapidamente com forte calor antes de a chuva chegar na maioria das cidades da região até o período da noite. A linha de instabilidade atinge inicialmente o Rio Grande do Sul. Após, a linha avança para Santa Catarina e o Paraná.
Esta linha começa a ingressar pelo Oeste gaúcho durante esta manhã e até o meio e o final da tarde afeta grande parte do Rio Grande do Sul. Logo a seguir, alcança várias áreas de Santa Catarina e do Paraná na segunda metade do dia. Amanhã, no começo do dia, estará em áreas mais a Nordeste de Santa Catarina e do Leste do Paraná.
Vai ter temporal na minha cidade?
Há risco de temporal em todas as regiões gaúchas e na maioria das áreas de Santa Catarina e do Paraná, além do Sul do Mato Grosso do Sul, com o deslocamento da linha de instabilidade.
Isso, contudo, não significa que vai ocorrer temporais em todos os lugares. São menos comuns as situações de tempo severo mais generalizado e a regra é que as tempestades sejam isoladas na atuação dos sistemas meteorológicos.
Assim, é possível que um temporal de vento atinja uma cidade e o município vizinho nada registre de severo. Como são ocorrências localizadas, que se diz de microescala, não é possível prever exatamente onde exatamente ocorrerá um temporal mais forte.
O risco, entretanto, deve ser maior em locais em que a temperatura estiver mais alta como as Metades Oeste e Norte do Rio Grande do Sul, além do Oeste de Santa Catarina e o Paraná.
Podem ocorrer temporais fortes?
Pode sim, mas, como enfatizado, em pontos isolados. A linha de instabilidade vai encontrar uma atmosfera aquecida hoje no Sul do Brasil e com a presença de uma corrente de jato (vento) em baixos níveis da atmosfera. Além disso, o alinhamento de nuvens carregadas tende a avançar rapidamente, o que aumenta o risco de vento.
Portanto, o risco maior é de vento forte durante a passagem da faixa de instabilidade, mas não se afasta granizo ou chuva forte localizada que possa trazer alagamentos. Muito isoladamente, podem ocorrer episódios de vendaval em que as rajadas devem ficar perto ou acima de 100 km/h. No geral, o vento na chegada da linha de instabilidade deve ficar entre 40 km/h e 70 km/h.
Vai ter muita chuva?
Muitas áreas estão se ressentindo de precipitações mais volumosas em consequência da La Niña que tem como efeito reduzir a chuva no Sul do Brasil e este sistema traz a esperança de que se registrem precipitações abundantes e capazes de aumentar os níveis de umidade no solo. Ocorre que a tão esperada chuva volumosa não vai ocorrer na maioria dos locais.
O mapa acima mostra a projeção de chuva até 21h de sexta-feira, conforme a simulação do modelo WRF da MetSul, modelo que está disponível ao assinante na seção de mapas. Como se observa, a perspectiva é de a chuva ser generalizada, mas com enorme variabilidade de volumes de um ponto para outro.
Na maioria dos locais, os volumes não devem ser expressivos e tendem a se situar entre 15 mm e 30 mm, porém haverá pontos em que a chuva deve ficar perto ou passar dos 50 mm.
Haverá pancadas isoladamente fortes a torrenciais na chegada da linha de instabilidade com potencial de gerar volumes elevados em curto período e, assim, alagamentos pontuais.
Devo esperar ventos ciclônicos?
O vento ciclônico não é o de temporal, portanto rápido e às vezes intenso, que ocorre no momento da formação de um ciclone com o avanço de frente fria ou uma linha de instabilidade, mas o que sopra por muitas horas seguidas e com rajadas intensas em alguns momentos por efeito da circulação de vento do ciclone.
Os ciclones fortes de inverno costumam trazer este tipo de vento ciclônico que não raro sopra pode até um dia ou mais. É o que traz, por exemplo, o chamado Minuano.
Amanhã, sexta-feira, com o ciclone na costa se espera a ocorrência de vento ciclônico no Sul e no Leste do Rio Grande do Sul, especialmente no litoral e nas áreas das lagoas e seu entorno. Não será, entretanto, intenso como nos grandes ciclones de inverno e as rajadas, em média, devem ficar entre 50 km/h e 70 km/h. No restante do Rio Grande do Sul, o vento será fraco a ocasionalmente moderado.
2021-11-25 06:00:25