JAGUARÃO FARÁ 165 ANOS SEGUNDA-FEIRA, 23
Jaguarão foi erigida a partir de um acampamento militar, demarcando o expansionismo dos povoadores portugueses ao sul do novo mundo.
O território onde a cidade se encontra era pertencente, inicialmente, segundo o Tratado de Santo Ildefonso, de 1777, a Coroa Espanhola. Uma tropa comandada pelo Cel. Manoel Marques de Souza, em 1801, conseguiu avançar a fronteira e chegar à beira do rio enfrentando combatentes espanhóis. Essa empreitada era questão de sobrevivência. A aproximação de uma via navegável possibilitou o contato com restante do Rio Grande, principalmente, facilitou o abastecimento da tropa, com cerca 260 homens.
Aos poucos foram se estabelecendo um equilíbrio entre as partes, o que possibilitou criar relações amistosas com os espanhóis situados na margem oposta. Tratava-se da fase limiar de duas campanhas divididas pela corrente de águas. Com o tempo, além de transações econômicas incipientes, esboçava-se também o princípio de atividades religiosas. Na Guarda do Serrito, em 1802, foi erigida a primeira “Casa da Residência”, com o intuito de abrigar os comandantes locais.
Freguesia
O comando da Fronteira de Rio Grande, em um primeiro momento, estabeleceu e impôs certas restrições no tocante à formação regular do embrionário povoado. Em 1811, entretanto, são percebidas concessões de terrenos urbanos na Guarda e uma resolução régia, de 1812, criou a Freguesia do Espírito Santo de Jaguarão.
Com a primeira planta, datada de 1815, e o esboço das primeiras vias de circulação, percebe-se um aumento na distribuição de terrenos, voltados para moradias, cultivo agrícola e criação de animais, comércios e a presença de um significativo espaço militar.
Instalação do município
Em 1832 foi instituído por ato regencial, em nome de Dom Pedro II, o município de Jaguarão e instalado no ano seguinte, com a formação da Câmara de vereadores.
Em 1855, Jaguarão foi elevada à cidade. Em 1865 a fronteira foi invadida por cerca de 1500 orientais “blancos”, a mando da intervenção do general uruguaio Basílio Muñoz. Embora em número reduzido, as forças jaguarenses compostas por cerca de 500 praças resistiram e, com o auxílio de canhões, fizeram com que os uruguaios se retirassem.
A cidade é reconhecida nacionalmente por seus sítios arquitetônicos, que constituem um acervo considerado sem similar em número e estado de conservação no Rio Grande do Sul. Percebe-se o destaque, neste cenário, para os refinados casarões elaborados nos últimos decênios do século XIX e princípios do século XX, período que demarca a fase áurea da construção civil local.
Nome de Origem
A denominação de Jaguarão se deu em função do rio homônimo, que cruza a zona fronteiriça, onde foi erguido o município. O rio Jaguarão nasce próximo à cidade gaúcha de Bagé e deságua em território uruguaio, na Lagoa Mirim.
Diferentes explicações são atribuídas à origem do termo, que está registrado em documentos de natureza diversa, desde os primeiros anos primeiros da ocupação luso-espanhola. Uma possível gênese indica o aumentativo português de uma palavra derivada da língua tupi, que significa onça, em alusão ao animal felídeo que era encontrado, com exceção da região andina, em todo o continente americano, desde o sudeste dos Estados Unidos da América.
A versão mais corrente está amparada, porém, em uma lenda indígena. JAGUA-RU era como os guaranis pampianos chamavam a um monstruoso animal com o corpo de lobo marinho e patas armadas de garras de tigre, com o porte aproximado de um cervo ou cavalo pequeno. O terrível ser fazia escavações em barrancas, perto das margens onde os índios trabalhavam, o que provocava o desmoronamento das terras, fazendo com que pessoas ou animais que se aproximassem do local fossem lançados às águas e se tornassem suas presas. Ao atacar, arrastava os corpos e extraía apenas os pulmões das vítimas, jogando o que restasse novamente no rio.
Resistindo a todas investidas e armadilhas criadas para a sua captura, o Jagua-ru permanece circunscrito, até os dias de hoje, no imaginário popular.
Apenas uma ponte separa os países. Comércios chegam a receber pagamento tanto em real como em peso uruguaio.