Segundo noticiado na imprensa uruguaia, a agenda entre os ministros avançou sobre assuntos de interesse binacional, especialmente ligados às áreas de comércio e infraestrutura. O ministro brasileiro teria adiantado que no próximo ano, além da hidrovia, assuntos ligados à interconexão elétrica também deverão entrar na pauta comum. A reportagem entrou em contato com a assessoria do ministro, para detalhar a agenda, mas não obteve retorno.
Ao avaliar o encontro, Bustillo considerou que foi importante para avançar em temas de interesse comum, sobretudo os relacionados à construção da hidrovia, que vem sendo debatida há décadas pelas duas nações. “É uma obra fundamental para ambos os países”, disse o chanceler uruguaio à imprensa local.
Por meio das redes sociais do Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores divulgou que os chanceleres trataram dos próximos passos da agenda de modernização do Mercosul, “incluindo a revisão da Tarifa Externa Comum e a dinamização da agenda externa do bloco”. Sem citar especificamente a Hidrovia da Lagoa Mirim, uma das postagens destacou que temas bilaterais, com destaque para “integração física, cooperação fronteiriça, interconexão elétrica e normalização das fronteiras após a pandemia” foram abordados. Temas internacionais como a guerra da Ucrânia e seus impactos também estiveram em pauta.
O ministro brasileiro também se encontrou em Montevidéu com o secretário-geral da Associação Latino-americana de Integração (Aladi), onde debateu maneiras de impulsionar o comércio e a integração regional no contexto político latino-americano.
O Brasil ocupa papel de destaque no comércio exterior uruguaio, tendo sido em 2021 o segundo principal parceiro comercial do país vizinho, sendo o primeiro fornecedor e o segundo consumidor. A corrente comercial é composta sobretudo por produtos industrializados (81%).
De acordo com o Itamaraty, o fluxo comercial bilateral experimentou forte recuperação em 2021, com crescimento de 35,2% em relação ao ano anterior, alcançando US$ 3,8 bilhões. Da mesma forma, as exportações entre Brasil e Uruguai aumentaram 17,5%, atingindo o valor de US$ 2 bilhões, enquanto as importações brasileiras cresceram 63,3%, somando US$ 1,8 bilhão.
O projeto voltado à consolidação do transporte de cargas pela Lagoa Mirim é o primeiro voltado ao transporte hidroviário qualificado no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do governo federal. A Hidrovia, que também será a primeiro pedagiada do Brasil, é vista como fundamental para impulsionar o desenvolvimento econômico regional, reduzir custos logísticos e fortalecer ainda mais as relações binacionais.
Seu funcionamento permitirá o escoamento de embarcações oriundas do Uruguai ao Porto de Rio Grande pela hidrovia, que conectará as Lagoas Mirim e dos Patos. O ponto de partida da obra será a dragagem e sinalização da hidrovia pelo Canal de São Gonçalo, que conecta as duas lagoas, no trecho entre o Canal do Sangradouro (Extremo Norte) e o Canal de Acesso ao Porto de Santa Vitória do Palmar (Extremo Sul).
No estudo que confirmou a viabilidade da obra, elaborado pela empresa paulista DTA Engenharia e entregue às autoridades em 13 de abril, está prevista a concessão da hidrovia por 30 anos (25 anos com possibilidade de renovação por mais cinco) à iniciativa privada. A obra terá 30 metros de largura, 3,80 metros de profundidade e 254 quilômetros de extensão, e está avaliada em US$ 10 milhões.
Atualmente, o estudo de viabilidade da Hidrovia está em fase de revisão e análise pelos órgãos federais. Se aprovado, segue para lançamento do edital da obra e agendamento do leilão. O objetivo do governo brasileiro é conseguir lançar a licitação até o final de 2022.
Do lado uruguaio, o ponto de partida do projeto é o Terminal Tacuarí. Para o país vizinho, a hidrovia terá potencial de maximizar o agronegócio, resgatar o desenvolvimento de pelo menos quatro regiões – Tacuarembó, Cerro Largo, Rocha, Treinta y Tres- e ainda reduzir os custos logísticos do transporte terrestre, já que essas áreas estão distantes da capital Montevidéu, o que acarreta gastos altos para o transporte de cargas até o porto da capital uruguaia.
Fernanda Crancio
Fonte: Jornal do Comércio – Economia
2022-05-04 17:13:00