O mês de janeiro que se encerra foi marcado por grandes extremos climáticos do Sul ao Norte do Brasil. Na primeira quinzena do mês, um episódio da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) trouxe volumes extremos de chuva para Minas Gerais e a região do MATOPIBA com inundações graves, centenas de cidades em emergência, mortes e deslizamentos.
No Rio Grande do Sul, a seca se agravou ainda mais e, para piorar, o estado gaúcho enfrentou uma onda de calor de duração e intensidade sem precedentes com 15 dias seguidos acima dos 40ºC e a queda de múltiplos recordes, alguns até de cem anos, com inúmeras marcas históricas.
Fevereiro deve ter novos extremos de chuva no Brasil, mas que não ocorrerão nas áreas que mais estão em necessidade de chuva. A tendência é que os índices de precipitação fiquem acima ou muito acima em vários pontos do Brasil Central, especialmente entre o Centro-Oeste e o Sudeste do país, mas não se projeta um cenário de chuva superior aos padrões históricos de forma generalizada nestas regiões.
O mapa abaixo mostra a projeção de anomalia de chuva para o mês de fevereiro no Centro-Sul do Brasil de acordo com o modelo climático norte-americano CFS, disponível ao nosso assinante na seção de mapas com atualizações diárias.
O CFS projeta chuva acima da média no Mato Grosso do Sul, São Paulo, maior parte de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. No Sul, chuva acima da média do Paraná à Metade Norte gaúcha com precipitações muito acima da média entre o Noroeste gaúcho e o Oeste do Paraná e o Sul do Mato Grosso do Sul. No Oeste e no Sul gaúcho, o indicativo é de precipitação abaixo da média.
A MetSul, entretanto, enxerga um cenário diferente do CFS. A tendência é chover de forma mais regular e com volumes em diversos pontos acima da média entre o Mato Grosso do Sul e o Sudeste do Brasil, o que vai ter efeito no Paraná com acumulados mais altos, mas na nossa visão de Santa Catarina para o Rio Grande do Sul a chuva seguiria muito irregular. Os mapas abaixo mostram a tendência de anomalia de chuva semana a semana de fevereiro pelo modelo europeu.
O entendimento da MetSul é de que em Santa Catarina haverá grande variabilidade na chuva com pontos acima e abaixo da média. Maior probabilidade de precipitações superiores às normais históricas no Leste e no Nordeste catarinense enquanto no interior a chuva seria mal distribuída com alguns municípios com índices satisfatórios e outros se ressentindo ainda de precipitações mais volumosas.
O mesmo cenário se projeta para a Metade Norte gaúcha. No Nordeste gaúcho, em áreas mais a Leste da Serra e do Litoral Norte, os volumes de chuva poderiam ser maiores em relação às médias ao passo que no restante da Metade Norte haveria maior variabilidade com condição muito “manchada” em que um município termina o mês com chuva acima da normal histórica e outro próximo abaixo. No Sul, a irregularidade da chuva será ainda maior, especialmente à medida que se distancia da costa. É o que leva o Oeste gaúcho, a região de Uruguaiana, Itaqui, Alegrete e Quaraí, a ser a área com maior risco de déficit de precipitação no mês.
Fevereiro é o terceiro e último mês do verão climático (DJF) e o penúltimo do verão astronômico, portanto naturalmente devem ser esperados dias de calor e alguns de intenso calor. Apesar disso, o cenário que se esboça indica um cenário muito melhor de temperatura para o Rio Grande do Sul que foi assolado por uma quinzena inteira de marcas extremas em janeiro.
Não haverá uma nova intensa e prolongada onda de calor e, ao contrário, vários dias de fevereiro devem ter marcas agradáveis no estado gaúcho. Com isso, o risco de tempestades severas que causaram tanta destruição em janeiro em algumas cidades diminui. Os temporais não deixam de ocorrer e alguns podem ser isoladamente fortes a severos no Rio Grande do Sul, mas serão menos números que o visto durante a segunda fase da onda de calor de janeiro que foi mais úmida.
Já no Sudeste, com maior umidade e ar mais quente, os temporais de verão devem ser um tanto frequentes, especialmente entre o meio da tarde e o começo da noite, o que se diga não foge ao padrão típico desta época do ano. Estes temporais podem trazer acumulados de chuva muito altos em curto período com alagamentos e deslizamentos, raios e vento forte.
Assim, no caso do estado gaúcho, o mês de fevereiro não reserva o fim da estiagem que deixa quase 400 municípios em situação de emergência, mas pode trazer alívio em alguns pontos da Metade Norte. Chuva com maior frequência que janeiro, a despeito de irregular, contribuiria para a soja em diferentes localidades. No geral, a estiagem vai prosseguir e tende mesmo a se agravar, especialmente em pontos mais a Oeste do território gaúcho.
2022-01-30 12:07:17