O anúncio do governo uruguaio de que o país terá um “verão restrito” frustrou as expectativas de prefeitos de cidades que fazem fronteira com a banda oriental. A adoção de regras duras para a entrada de estrangeiros foi adotada no início da pandemia. Ainda assim, havia a esperança de flexibilização para a ida de turistas em busca dos balneários do país vizinho. A cada verão, o movimento de brasileiros impacta positivamente nas vendas dos free shops da região, assim como nos serviços de hotelaria e gastronomia.
Na última semana, barreiras sanitárias feitas pelo Exército do país vizinho chamaram a atenção de brasileiros que tentavam acessar a cidade de Rivera, com a aferição de temperatura, solicitação de documentos e aplicação de questionário.
Apesar de não contar com free shops, Santana do Livramento é um dos principais destinos de brasileiros que se hospedam na cidade, mas compram em Rivera, já no Uruguai. Em média, 80 ônibus fretados se dirigem à região aos finais de semana com esse objetivo. Na região, o objetivo é informar que ainda há a possibilidade de fazer compras após a fronteira.
— Reduziu a procura na rede hoteleira. Mas ainda pode cruzar a fronteira (para fazer compras e voltar). O que existe é um controle mais rigoroso, com temperatura, identificação — relata o secretário geral de Governo de Santana do Livramento, Ricardo Dutra.
Em Jaguarão, que faz fronteira com o Uruguai através da cidade de Rio Branco, há o movimento de compra nos dois sentidos. O município também conta com free shops, além de ter alta procura de uruguaios, que buscam produtos alimentícios e roupas mais baratos do que em seu país de origem.
De acordo com o prefeito da cidade, Favio Telis, as vendas nesses setores caíram 30% desde o início da pandemia, já que os vizinhos têm visitado menos a cidade. Ele reclama de maior rigor nas ações uruguaias em relação aos protocolos adotados do lado brasileiro.
— O engraçado é que a fronteira vai ser trancada só lado de lá e não para quem entra no Brasil, como se o risco de contaminação fosse só daqui pra lá. Eles não usavam máscaras. Dá a impressão, como eles estavam vivendo um período político, passou a eleição e começou a aumentar o número de casos — pontua.
Em Uruguaiana, onde o sétimo free shop será inaugurado nesta terça-feira (27), a situação econômica é diferente das demais cidades de fronteira. A previsão é de que, com restrições na saída do país para compras no país vizinho, os brasileiros prefiram utilizar a cota de aquisições em solo nacional na cidade.
— Aumentaram as vendas para brasileiros. Vemos, nesse momento, uma oportunidade de crescermos ainda mais com o turismo de compras — relata a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico, Luciana Reis.
Revisão
As chances de reversão das medidas anunciadas para o verão pelo governo uruguaio são remotas, na visão da secretária de Relações Federativas e Internacionais do governo gaúcho, Ana Amélia Lemos. Nesta segunda-feira, ela conversou com o embaixador uruguaio no Brasil, Guillermo Valles Galmés, que reforçou a necessidade da manutenção das regras.
— Tudo vai depender de como vai se comportar a pandemia, mas o embaixador ratificou o que havia sido dito pelo presidente uruguaio e, segundo ele, são medidas dolorosas — destaca a secretária.
A população do Uruguai é de cerca de 3,5 milhões de pessoas. De acordo com o diplomata, a cada ano, 3 milhões de turistas visitam o país, grupo formado, em grande parte, por brasileiros.
No entanto, há uma possibilidade de flexibilização para a entrada de brasileiros no Uruguai ainda em 2020. De acordo com o presidente da Comissão do Mercosul e Assuntos Internacionais da Assembleia Legislativa gaúcha, Frederico Antunes, o assunto está sendo tratado entre os dois países.
— Há a possibilidade da retomada de voos a Montevidéu, na segunda quinzena de dezembro.
Em relação à Argentina, onde também há restrição para a entrada por via terrestre, Antunes lembra que a data para a possibilidade de retomada de voos já foi confirmada para 2 de novembro. No entanto, está em aberto o pedido feito ao governo argentino para a liberação do acesso terrestre a cidadãos brasileiros que tenham carteira vicinal fronteiriça. A resposta ainda não foi dada.
As cidades onde há free shops no Rio Grande do Sul, com cota de compras para brasileiros de US$ 300, são Uruguaiana — com sete lojas (a sétima será inaugurada nesta terça-feira, 27); São Borja — que terá a primeira loja a partir de dezembro; Jaguarão — com um free shop e mais dois previstos para dezembro; Barra do Quaraí, com duas opções; e Porto Mauá, com uma loja.
Para o veraneio nas praias brasileiras, tradicionais destinos de turistas argentinos e uruguaios, a expectativa é de restrições ao acesso de estrangeiros por via terrestre.
Regras
Turistas brasileiros que queiram passar férias no Uruguai deverão cumprir quarentena obrigatória ao chegar ao país vizinho. O visitante terá que apresentar teste PCR negativo para covid-19 feito a menos de 72 horas e se submeter a quarentena de 14 dias. Há a possibilidade de se submeter a um novo teste em solo uruguaio depois de sete dias, o que liberaria o turista do resguardo. Caso as regras não sejam cumpridas, o presidente Luis Lacalle Pou pediu que seja utilizado “todo o peso da lei”.
O Uruguai registra 2.700 casos de covid-19. Desde o início da pandemia, teve 63 mortes, o equivalente ao número de vítimas da doença em apenas um dia no Rio Grande do Sul durante o período mais grave da pandemia.
Fonte: Gaúcha ZH
Mateus Ferraz