Em Dezembro, o Brasil entrou na estação mais chuvosa do ano. Dia 22, logo antes do Natal, começou oficialmente o verão, que é um período tipicamente quente e chuvoso na maior parte do país. Com isso, espera-se chuvas frequentes e temperaturas altas especialmente no centro-sul do país.
No entanto, será que este padrão vai se manter regular em todas as regiões? Será que o enfraquecimento previsto para o El Niño pode influenciar o clima brasileiro? Para responder a estas questões, vamos analisar juntos os principais padrões climáticos e suas previsões.
Oscilação Antártica
Vamos começar observando algumas tendências de curto prazo. A Oscilação Antártica (abreviada como AAO) é um índice capaz de traçar panoramas climáticos para o centro-sul do país com previsibilidade de cerca de duas semanas. Tendências e/ou valores positivos inibem a atuação de sistemas de precipitação, principalmente na Região Sul.
É possível perceber que, nas primeiras semanas do ano, a tendência do índice AAO é se manter predominantemente positivo. Na prática, isso desfavorece a formação de sistemas transientes, como frentes frias, e consequentemente pode reduzir a formação de chuvas no Sul e Sudeste.
Oscilação de Madden-Julian
A Oscilação de Madden Julian (OMJ), por sua vez, também possui uma previsibilidade de até duas semanas e é capaz de potencializar ou inibir eventos de precipitação especialmente no Norte e Nordeste do Brasil, favorecendo movimentos de ascendência do ar (que tornam o clima mais chuvoso) ou subsidência (que o tornam mais seco).
É possível observar que, nas próximas semanas, a circulação associada à OMJ vai causar anomalias negativas em praticamente todo o país – e especialmente na região próxima à costa norte, que compreende parte do Nordeste (litoral norte) e Norte do Brasil. Isso está simbolizado, na imagem, pelas cores azuis e indica uma potencialização das chuvas na região.
Por outro lado, também é possível identificar, no final do período, uma breve formação de anomalias positivas junto à costa leste do Brasil, o que indica uma desintensificação das chuvas nesta área que compreende parte da região Nordeste (litoral leste) e Sudeste do Brasil.
EM RESUMO, no curto prazo, Janeiro de 2024 se inicia com tendências climáticas que devem potencializar as chuvas na maior parte do país – especialmente no extremo norte do Brasil e no litoral norte do Nordeste; porém enfraquecê-las brevemente no Sul, Sudeste e litoral leste do Nordeste.
Temperatura da Superfície do Oceano
Dito isso, agora vamos observar algumas tendências de longo prazo. No Oceano Pacífico Equatorial, é possível perceber a presença de uma grande região com temperaturas superficiais mais quentes que o normal. Essa faixa caracteriza o El Niño, que está ativo já a vários meses e continua influenciando o clima brasileiro.
É verdade que existe uma perspectiva de que o El Niño enfraqueça ao longo de 2024. No entanto, as últimas atualizações indicam que ele deve continuar ativo e influente até, pelo menos, o mês de maio. Isso significa que o El Niño continuará influenciando o clima brasileiro durante todo o verão.
E mais, é durante o verão que seus efeitos são mais bem definidos e pronunciados. Em anos de El Niño, são esperados, num geral, os seguintes efeitos sobre o clima brasileiro:
- Região Sul: Chuvas intensas e frequentes e aumento das temperaturas médias;
- Região Sudeste: Aumento moderado das temperaturas médias;
- Região Centro-Oeste: Sem efeitos muito pronunciados, apenas chuvas e temperaturas acima da média no sul do Mato Grosso do Sul
- Região Nordeste: Diminuição brusca das chuvas e secas severas.
- Região Norte: Diminuição das chuvas, secas severas, aumento pronunciado de incêndios florestais.
Por outro lado, nota-se que o Oceano Atlântico, que banha a costa brasileira, continuará bastante aquecido, inclusive na costa nordestina. Isso pode alimentar a formação de chuvas na região Nordeste, em contraste aos efeitos do El Niño e da OMJ, aumentando a precipitação na região.
Anomalias de chuva para o Verão de 2024
O modelo de confiança da Meteored, o europeu ECMWF, traz também padrões de precipitação interessantes de se observar em paralelo aos fenômenos meteorológicos citados anteriormente – e indica que podem haver variações nos padrões climáticos conforme os meses se passam.
As previsões numéricas indicam que o verão será marcado por um padrão específico: uma redução das chuvas (representada pelas cores amareladas) entre os estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, e uma potencialização das chuvas em uma faixa que compreende o restante do Sudeste, do Centro-Oeste e também o Nordeste do país – O que caracteriza um padrão de chuvas relacionado com a Zona de Convergência do Atlântico Sul, um comportamento climático muito comum no verão brasileiro.
É possível notar que esse padrão de verão contrasta com os efeitos esperados do El Niño, especialmente no Norte e no Nordeste. Eles batem, no entanto, com a influência de outras oscilações e padrões. O que isso indica é que, inicialmente, outros fenômenos desempenharão um papel mais importante no cenário destas regiões do que o El Niño.
No entanto, conforme os trimestres avançam, o padrão parece se inverter: As chuvas passam a ser potencializadas no Sul do país e enfraquecem na região Nordeste, voltando gradualmente a refletir o padrão típico do El Niño. Essa inversão poderá ser percebida conforme os meses avançam, durante a transição do verão para o outono.
Anomalias de temperatura para Junho
Já a previsão numérica de temperaturas apresenta uma constante para todo o período: As temperaturas vão continuar acima da média em todo o Brasil, especialmente na porção central do país, e esse padrão não vai mudar com a passagem dos meses.
Isso sinaliza que o primeiro semestre de 2024 será particularmente quente em todo o país, com potencial para novas ondas de calor, tão intensas quanto as registradas nos últimos meses de 2023 e possivelmente até mais quentes.
EM RESUMO: No longo prazo, as temperaturas se mantém quentes e acima da média em todo o país. O ano se inicia mais seco que o normal entre os estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, porém mais chuvoso em uma faixa que compreende o restante do Sudeste, do Centro-Oeste e também o Nordeste do país. No entanto, esse padrão pode se inverter conforme nos aproximamos do Outono, ficando mais próximo do esperado pela influência do El Niño.
Vale lembrar que as previsões de longo prazo representam tendências regionais que, em média, funcionam muito bem para indicar o que acontece em escalas maiores do país. Contudo, estes padrões podem variar bastante em escalas menores, de município para município. Por isso, não deixe de acompanhar as atualizações e as previsões específicas para sua cidade aqui na Meteored Brasil.
2023-12-30 10:27:20